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Profissionais de saúde negros usam carreira para cuidar da população negra

  • Terra -

Segundo um levantamento do site Quero Bolsa feito a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas negras no ensino superior cresceu 400% entre 2010 e 2019. Apesar de terem passado a representar 38,15% do total de matriculados, porém, os negros não atingem mais de 30% das vagas em alguns cursos, como psicologia e medicina.

Nesse contexto, as políticas de ação afirmativa têm um papel importante, como a Lei de Cotas, que completa 10 anos neste ano. No caso da medicina, por exemplo, 37,8% dos alunos negros ingressaram por meio de políticas de inclusão ou cotas, de acordo com o estudo ProvMed30, feito em parceria entre o Ministério da Saúde, a USP e a Organização Pan-Americana da Saúde.

Um outro recorte do estudo ligado à população negra, maioria entre os brasileiros (56%), mostra que, ao mesmo tempo em que nunca foram registrados tantos médicos no Brasil - a previsão é chegar a mais de 815 mil até 2030 -, a população não se beneficia igualmente desse crescimento porque a distribuição dos profissionais entre a saúde pública e a privada é desproporcional. Em 2019, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE revelou que 71,5% dos brasileiros usam exclusivamente o SUS, mas somente 21,5% dos médicos atuam integralmente no sistema. Trocando em miúdos, há muito mais médicos concentrados no setor privado, que atende a menor parte da população.

Ciente do problema, a médica Rayssa Okoro, formada pela Universidade Federal do Maranhão e atual moradora de São Paulo, não escolheu a profissão para se especializar em cirurgias complexas ou áreas muito específicas. Nascida em uma família negra de classe média, ela atua no SUS como médica generalista, focada na atenção básica da população em situação de vulnerabilidade.

"Desde que entrei na faculdade, só via sentido em cuidar da população brasileira, que é majoritariamente negra, pobre e usuária do SUS", diz. "Quero estar nos espaços em que essa população está para garantir que os meus iguais sejam bem cuidados, por uma igual. E quero que as pessoas me vejam de jaleco e turbante e entendam que é possível uma mulher negra ser médica no Brasil."

Casos como o de Rayssa estão começando a se multiplicar no País: pessoas negras que miram diplomas da área de saúde e direcionam a carreira às necessidades da população negra. Os desafios para que elas se formem e consigam atuar no mercado, no entanto, são maiores. Segundo a médica, faltam políticas públicas que facilitem a permanência dos estudantes negros e de classe baixa no curso de medicina, por exemplo.

"São seis anos de uma faculdade extremamente extenuante e adoecedora, nos sentidos físico e psicológico. Se já é difícil para quem tem todos os privilégios, imagine para quem enfrentou tantas dificuldades para entrar", defende.

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